segunda-feira, 27 de junho de 2011

JUIZ EM MEU PRÓPRIO JULGAMENTO

Começo a pensar no que eu faria se, num belo dia, recebesse a notícia que teria apenas uma semana de vida.
Fico imaginando minha reação, meu espanto, a dor de deixar meus apegos, e, principalmente, o que eu pensaria das horas, dos dias, dos meses e dos anos que arduamente trabalhei para construir meu castelo nesta vida. Tanto esforço para construir algo que será simplesmente abandonado, e que não tem nenhum poder para me ajudar no momento que mais precisarei de ajuda...
Se eu recebesse a notícia que teria apenas uma semana de vida, provavelmente começaria a pensar nos lugares que gostaria de ter ido com as pessoas que amo, nas palavras de amor que gostaria de ter dito, nas coisas boas e realmente importantes que gostaria de ter feito, nas risadas que gostaria de ter dado, nas aventuras que gostaria de ter vivido...
Num piscar de olhos, minha vida inteira passaria, como num filme, na tela de minha mente, numa busca incessante por algo que realmente tenha tido sentido, por algo que realmente tenha trazido algum significado para minha existência; existência esta, que agora se aproximava de um fim.
Com o coração apertado, veria todos os momentos passando rapidamente, na busca de alguma razão, de alguma importância, de algo que acalentasse esse próprio coração apertado no momento do veredito final.
Como um juiz em meu próprio julgamento, avaliaria toda a minha existência, julgaria todas as minhas escolhas, escolhas que foram causas, causas que se tornaram resultados...
Em nossa vida sempre temos escolhas.
Escolhas são causas que trarão seus próprios resultados.
Escolhas acertadas nos trazem felicidade, escolhas erradas nos trazem sofrimento.
Fazer escolha é a parte mais importante de nossa vida, e também a mais difícil, pois muitas vezes as escolhas acertadas contrariam nossos próprios interesses...
Essas são nossas maiores encruzilhadas na vida, fazer as escolhas que sejam acertadas, mas que contrariam nossos próprios interesses; ou escolhas erradas que condizem com nossos interesses imediatos?
Geralmente nosso coração nos dá uma dica da melhor escolha, mas às vezes estamos tão enebriados com aquilo que profundamente desejamos que acabamos sufocando o sussurro de nosso coração, ou fingindo que não estamos ouvindo o que ele tem a nos dizer.
 Nestes momentos, tendemos a escolher o caminho mais fácil, aquele que está de acordo com aquilo que desejamos, e fazemos a escolha errada.
Essa escolha, essa causa, um dia irá gerar seu fruto; um fruto de sofrimento que amargamente teremos que degustar e desta vez, sem escolha, pois será o resultado, ou o efeito de algo que foi criado.
Mas se no momento que estivermos tomando nossa decisão, conseguirmos ouvir o sussurro de nosso coração e fizermos a escolha correta, mesmo contrariando nossos interesses imediatos, mesmo nos trazendo dor; um dia essa escolha, essa causa, também irá gerar seu fruto, só que desta vez um fruto de felicidade, de bênção; um fruto que em nosso próprio julgamento, poderá ser aquele que nos fará imensamente feliz. Um fruto que em nossa avaliação severa e solitária, por si só, poderá ser o responsável pelo veredito final, poderá ser o responsável por chegarmos à conclusão que, apenas por este fruto, este resultado, nossa vida tenha valido a pena ser vivida; que nossa vida, nossa existência, não foi em vão.
Se eu, um belo dia, receber a notícia que terei apenas uma semana de vida, com certeza vou fazer meu próprio julgamento, e espero que meu próprio veredito seja o de ter vivido uma vida que tenha valido a pena ser vivida. Que tenha acertado nas minhas escolhas, que tenha aprendido a ouvir meu coração.
Uma vez que ensinaram que nossa mente, nosso espírito mora em nosso coração, e que o segredo de viver uma boa vida, é sempre confiar numa mente feliz.
Talvez esse tenha sido o maior ensinamento que já tive, pois me fez ficar mais ligado, mais atento aos sussurros de meu coração, antes das minhas escolhas na vida.
Esse simples ensinamento iluminou meu caminho, foi à mão que segurei nos momentos de medo e dúvida, e que me ajudou a fazer escolhas acertadas, que me trouxeram e que ainda me trazem imensas alegrias e felicidade...
Continuando a pensar no que eu faria se, num belo dia, recebesse a notícia que teria apenas uma semana de vida; acho que ficaria feliz. Ficaria feliz e grato, pois teria tempo de sobra para julgar minha vida e chegar ao meu próprio veredito. E ainda daria tempo de ir a alguns lugares com aqueles que amo; daria tempo de dizer muitas palavras de amor; daria tempo de ainda fazer algumas coisas boas que beneficiassem pessoas; daria tempo de dar boas risadas com aqueles que amo; daria tempo ainda, de vivenciar uma última aventura...
Ao contrário da maioria que repentinamente parte desta vida; eu teria a boa sorte de reunir a todos que amei na vida; teria a boa sorte de olhar nos olhos de cada um; dar meu último sorriso; dar meu último abraço; teria a boa sorte de poder dizer a cada um o quanto foram importantes em minha vida e o quanto eu os amei.
E desta forma, tão leve quanto nesta vida cheguei, desta vida partiria. Partiria em paz, sabendo que fiz tudo àquilo que gostaria de ter feito. Sabendo que minha vida valeu cada segundo que foi vivida.
Dizem que noventa e seis por cento das pessoas preferem não saber o dia em que irão morrer. Mas eu gostaria de saber, mesmo que fosse apenas para segurar uma mão amada, mesmo que fosse apenas para trocar um olhar, um olhar totalmente sem palavras, e que claramente estaria dizendo: “adeus e muito obrigado”...
José Milton
Recanto da Floresta 12/06/2011

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